“Sempre há mais de uma maneira de se contar uma história. A história
dos reis de Israel foi primeiramente narrada nos livros de Samuel e Reis. Agora
somos apresentados a um novo relato da mesma história, cerca de cem anos
depois, por outra voz e de outra perspectiva: Crônicas. Alguns dos relatos
iniciais são omitidos, e há vários acréscimos, mas claramente eles compõem a
mesma história. Entretanto, os rumos da nação de Israel haviam mudado
consideravelmente desde os primeiros relatos oficiais (Gênesis e Reis). O povo
de Deus agora corria o risco de perder contanto com aquilo que havia feito dele
o povo de Deus. Em retrospectiva, a partir desse estado arruinado emq eu estavam
na sua história, vê-se uma sucessão de grandes potências mundiais: a Assíria, o
Egito, a Babilônia e a Pérsia estão no comando. O povo de Israel está submerso
em influências estrangeiras. Prece, também, estar atolado em mesquinharias
religiosas internas. A grande questão é: será que esse povo será extinto?
Um novo autor (pode ter sido Esdras) resolveu recontar a história a
partir de um novo ângulo. Seu objetivo foi resgatar e restaurar a confiança e
obediência de Israel como povo de Deus. Apesar das condições políticas e
culturais da época, é extraordinário que esse ator tenha insistido, sem muito
apoio dos seus compatriotas, na identidade central de Israel como comunidade de
adoração conforme a tradição davídica. Ele fez isso justamente ao escrever o
livro que você vai ler agora. Israel não desapareceu definitivamente na grande miscigenação
de violência, sexo e religião do Antigo Oriente Médio.
De: A ênfase do autor nos detalhes do culto sugere que o autor
era um sacerdote (talvez Esdras). Ele fez a tenebrosa viagem da Babilônia de
volta para as ruínas de Jerusalém com o sonho de reconstruir o templo e adorar
a Deus à maneira antiga.
Para: Os persas que agora dominavam o Oriente Médio permitiram
que alguns milhares de judeus retornassem à sua terra devastada a fim de
reconstruir o que fosse possível. Eles mal conseguiam alimentar as suas
famílias, e os persas ainda estavam no comando. Assim, se a identidade deles
dependesse do poder econômico ou político, eles não eram nada. Eles puderam,
entretanto, construir um humilde templo, centrar sua vida na adoração a Deus e
fazer o bem ao próximo. A cultura em volta deles dizia que a herança não tinha
valor – tudo que importava era viver o agora. Mas eles se firmaram na convicção
de que faziam parte de uma história que se estendia até o passado, vivia no
presente e prometia um futuro”.
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